No final da festa, quando a maioria dos convidados já tinham ido embora, o noivo sobe no palco, pega o microfone e diz:
"E agora, o fim está próximo. Já até fecharam as cortinas. Meus amigos, vou dizer claramente sobre o meu caso. Está tudo bem claro.
Eu vivi uma vida cheia. Viajei em quase todas as estradas. E muitas outras coisas, eu fiz do meu jeito.
Arrependimentos... tive alguns. Mas mesmo assim, tão pequenos, que nem vale a pena mencionar. Eu fiz o que tinha de fazer. E passei por tudo, tudo, sem exceção.
Eu planejei cada passo. Cada pequeno movimento pelo caminho. E mais ainda, muito mais que isso, tudo do meu jeito.
Sim, houve tempos, eu sei que vocês sabem, em que talvez eu tenha mordido mais do que conseguiria comer. Mas aí, quando surgiam dúvidas, eu engolia tudo, ou cuspia. Eu encarava de cabeça erguida. E encarei do meu jeito.
Eu amei, eu ri, eu chorei, eu tive minha parte. E minha porção de perdas. E agora, sem lágrimas nos olhos, acho que foi tudo muito excitante.
E pensar que fiz tudo isso. Ainda ouso dizer: não foi de uma maneira discreta. Ah não, meus amigos, eu não. Eu fiz tudo do meu jeito.
O que é um homem? O que um homem tem? Apenas a ele mesmo! Para dizer as coisas que ele realmente sente! E não dizer as palavras daqueles que se ajoelham. As gravações mostraram como eu atropelei a vida! E fiz isso do meu jeito!"
28 junho 2009
15 junho 2009
Odisséia no Espaço
Desde pequeno, Tomas tem esse sentimento de liberdade. Algo como claustrofobia, só que mais leve, e mais amplo. Tomas é o tipo do cara que se sente incomodado se você segurar no braço dele. Logo vai praguejar um "me solta!" mal-humorado.
Tomas obedece as instruções da base, coloca seu capacete e toma suas pílulas de proteína. Senta-se no banco do piloto e passa o cinto. Pilotar é sua forma de expressar a liberdade. Logo quando aprendeu a dirigir, antes mesmo de tirar a carteira de habilitação, Tomas pegou o carro de sua mãe, e viajou por um mês e meio. Era uma urgência. Uma urgência por mudança. E não é como se Tomas precisasse conhecer novos lugares. Ele apenas precisava saber se ele era capaz de viajar para novos lugares. É diferente. É o sentimento de liberdade lutando contra o sentimento de pertencer a um lugar.
A base de controle informa o início da contagem regressiva para o lançamento. Tomas aciona a partida dos motores de propulsão. Checa a ignição. E ouve a base de controle desejando "boa sorte, e que o amor de Deus esteja com você." Enquanto descem os números da contagem, Tomas não percebe o quanto essa viagem é semelhante a todas as outras. De quando saiu da casa de seus pais e nunca mais voltou. Ou de quando saiu de seu país e não voltou. Ou quando quase largou sua mulher uma vez. Voltou quando descobriu que ela estava grávida. O sentimento paterno seria a única coisa que prendia Tomas?
Lançamento.
Já fora da atmosfera terrestre, Tomas ouve o comunicador soar.
"Base para Major Tom."
Tomas responde que está consciente e bem.
"Ótimo, Major Tom. Você realmente conseguiu."
O caminho da vida de Tomas não tem volta. Ele sabe disso e não se importa.
Após alguns dias no espaço, Tomas já está familiarizado com a pressão, a falta de gravidade, as cápsulas de comida, e o tipo de relação com os humanos em seu comunicador.
"Base para Major Tom. A imprensa está querendo saber que marca de camisetas você costuma usar."
O sentimento de ânsia por liberdade começa a aflorar novamente em Tomas.
"Base para Major Tom. sua órbita está estabilizada. Está na hora de sair da cápsula, quando estiver pronto."
Tomas veste seu uniforme. Já fazia dias que só usava roupas de baixo na cápsula. Aciona o comunicador de seu capacete. Liga os tubos de respiração. Prende os mosquetões aos cabos. Despressuriza a câmara. Aciona a porta.
"Major Tomas para base de controle. Estou saindo pela porta. Senti a diferença de pressão. Ainda estou conectado à cápsula pelos cabos e o tubo de oxigênio. Estou flutuando da maneira mais peculiar. (Tomas ri.) As estrelas parecem diferente hoje."
"Base para Major Tom. Por favor avise quando terminar os procedimentos externos à cápsula. Marcamos uma entrevista com um programa de TV."
Tomas senta-se no que considerou ser o topo de sua nave. Sentia-se alto, porque dali conseguia ver o planeta terra abaixo de seus pés. O conceito de altura é bastante complexo para alguém que se locomove no espaço sem gravidade. É como o conceito de identidade, que fica mais complexo quando passamos a morar em outro país. E mesmo assim, mesmo cem mil milhas distante de seu planeta, de seu país, e da casa de sua mãe, mesmo assim Major Tomas sentiu-se estável. Nem mesmo o movimento disforme em gravidade zero o surpreendia mais.
"Major Tom para base. O planeta Terra é azul. E não tem mais nada que eu possa fazer aqui. Acho que minha espaçonave sabe como voltar. Digam à minha esposa que eu a amo muito. Ela sabe."
A cápsula espacial aciona o piloto automática e inicia o movimento de reversão. Recolhe os cabos e fecha a porta.
"Base para Major Tom. Os circuitos não respondem ao nosso comando. Há algo errado? Pode me ouvir, Major Tom? Pode me ouvir, Major Tom? Pode me ouvir?..."
Tomas obedece as instruções da base, coloca seu capacete e toma suas pílulas de proteína. Senta-se no banco do piloto e passa o cinto. Pilotar é sua forma de expressar a liberdade. Logo quando aprendeu a dirigir, antes mesmo de tirar a carteira de habilitação, Tomas pegou o carro de sua mãe, e viajou por um mês e meio. Era uma urgência. Uma urgência por mudança. E não é como se Tomas precisasse conhecer novos lugares. Ele apenas precisava saber se ele era capaz de viajar para novos lugares. É diferente. É o sentimento de liberdade lutando contra o sentimento de pertencer a um lugar.
A base de controle informa o início da contagem regressiva para o lançamento. Tomas aciona a partida dos motores de propulsão. Checa a ignição. E ouve a base de controle desejando "boa sorte, e que o amor de Deus esteja com você." Enquanto descem os números da contagem, Tomas não percebe o quanto essa viagem é semelhante a todas as outras. De quando saiu da casa de seus pais e nunca mais voltou. Ou de quando saiu de seu país e não voltou. Ou quando quase largou sua mulher uma vez. Voltou quando descobriu que ela estava grávida. O sentimento paterno seria a única coisa que prendia Tomas?
Lançamento.
Já fora da atmosfera terrestre, Tomas ouve o comunicador soar.
"Base para Major Tom."
Tomas responde que está consciente e bem.
"Ótimo, Major Tom. Você realmente conseguiu."
O caminho da vida de Tomas não tem volta. Ele sabe disso e não se importa.
Após alguns dias no espaço, Tomas já está familiarizado com a pressão, a falta de gravidade, as cápsulas de comida, e o tipo de relação com os humanos em seu comunicador.
"Base para Major Tom. A imprensa está querendo saber que marca de camisetas você costuma usar."
O sentimento de ânsia por liberdade começa a aflorar novamente em Tomas.
"Base para Major Tom. sua órbita está estabilizada. Está na hora de sair da cápsula, quando estiver pronto."
Tomas veste seu uniforme. Já fazia dias que só usava roupas de baixo na cápsula. Aciona o comunicador de seu capacete. Liga os tubos de respiração. Prende os mosquetões aos cabos. Despressuriza a câmara. Aciona a porta.
"Major Tomas para base de controle. Estou saindo pela porta. Senti a diferença de pressão. Ainda estou conectado à cápsula pelos cabos e o tubo de oxigênio. Estou flutuando da maneira mais peculiar. (Tomas ri.) As estrelas parecem diferente hoje."
"Base para Major Tom. Por favor avise quando terminar os procedimentos externos à cápsula. Marcamos uma entrevista com um programa de TV."
Tomas senta-se no que considerou ser o topo de sua nave. Sentia-se alto, porque dali conseguia ver o planeta terra abaixo de seus pés. O conceito de altura é bastante complexo para alguém que se locomove no espaço sem gravidade. É como o conceito de identidade, que fica mais complexo quando passamos a morar em outro país. E mesmo assim, mesmo cem mil milhas distante de seu planeta, de seu país, e da casa de sua mãe, mesmo assim Major Tomas sentiu-se estável. Nem mesmo o movimento disforme em gravidade zero o surpreendia mais.
"Major Tom para base. O planeta Terra é azul. E não tem mais nada que eu possa fazer aqui. Acho que minha espaçonave sabe como voltar. Digam à minha esposa que eu a amo muito. Ela sabe."
A cápsula espacial aciona o piloto automática e inicia o movimento de reversão. Recolhe os cabos e fecha a porta.
"Base para Major Tom. Os circuitos não respondem ao nosso comando. Há algo errado? Pode me ouvir, Major Tom? Pode me ouvir, Major Tom? Pode me ouvir?..."
13 junho 2009
Depois da Revolução Geek: Cena 2
*na Central de Informações*
Jovem: Como faço pra trabalhar agora?
Informante: Arranja um computador com internet.
Jovem: Onde?
Informante: Em qualquer lugar. A rede Wi-Fi foi aberta mundialmente. Internet agora é um patrimônio da humanidade, direito de todos.
Jovem: Legal. Vou jogar Warcraft na balada! hehe
Informante: ...
Jovem: Mas então... e o emprego?
Informante: Sim. Joga no Google. "Empregos"
Jovem: Sério?
Informante: Sério. Agora todos os empregos disponíveis estão no site Job.com. Empregos no mundo inteiro.
Jovem: Sei...
Informante: Depois você pode selecionar por tipo de emprego, área... ou só por região, se não te importar em que emprego conseguires.
Jovem: Só quero um que pague bem.
Informante: Todos pagam a mesma coisa.
*mexendo em um computador*
Jovem: Vejamos então. Sempre achei que seria legal ser adestrador de cães! hehe *olhando o monitor* 217 vagas disponíveis. Vagas na Europa, 48. Massa. Que países... Alemanha, 3. Heilderberg, 1. É lá mesmo! *clica* Pré-requisitos: curso de adestramento. Alemão básico. Ha! Sabia que tinha um porém. Tem links aqui. Curso de adestramento. O mais próximo. 1 curso em Campinas. Style. Aproveito e faço alemão por lá também! Próxima parada, Campinas!
Jovem: Como faço pra trabalhar agora?
Informante: Arranja um computador com internet.
Jovem: Onde?
Informante: Em qualquer lugar. A rede Wi-Fi foi aberta mundialmente. Internet agora é um patrimônio da humanidade, direito de todos.
Jovem: Legal. Vou jogar Warcraft na balada! hehe
Informante: ...
Jovem: Mas então... e o emprego?
Informante: Sim. Joga no Google. "Empregos"
Jovem: Sério?
Informante: Sério. Agora todos os empregos disponíveis estão no site Job.com. Empregos no mundo inteiro.
Jovem: Sei...
Informante: Depois você pode selecionar por tipo de emprego, área... ou só por região, se não te importar em que emprego conseguires.
Jovem: Só quero um que pague bem.
Informante: Todos pagam a mesma coisa.
*mexendo em um computador*
Jovem: Vejamos então. Sempre achei que seria legal ser adestrador de cães! hehe *olhando o monitor* 217 vagas disponíveis. Vagas na Europa, 48. Massa. Que países... Alemanha, 3. Heilderberg, 1. É lá mesmo! *clica* Pré-requisitos: curso de adestramento. Alemão básico. Ha! Sabia que tinha um porém. Tem links aqui. Curso de adestramento. O mais próximo. 1 curso em Campinas. Style. Aproveito e faço alemão por lá também! Próxima parada, Campinas!
01 junho 2009
Depois da Revolução Geek: Cena 1
Jovem - Mas e agora, de qual banco eu tiro grana?
Geek - Nenhum. Todo o dinheiro do mundo é virtual. Salvaremos árvores economizando muito papel.
Jovem - Você não entendeu. Se todos os bancos são iguais, onde eu olho minha conta?
Geek - Qualquer um. Estão todos no mesmo sistema.
Jovem - Entendi. É a mesma conta que eu tinha antes?
Geek - Não. Sua conta agora é o seu número de CPF. Esse é o mesmo de antes.
Jovem - Certo.
*no banco*
Jovem - Achei que iam zerar minha conta, ou algo assim.
Bancária - Eles não quiseram ser tão drásticos. E agora você vai ganhar um salário virtual.
Jovem - Como assim?
Bancária- Todo mês, vão depositar mil dólares na conta de todas as pessoas do mundo.
Jovem - Do mundo?
Bancária - É.
Jovem - E de onde vem toda essa grana?
Bancária - É uma grana virtual. Ela não vem de lugar nenhum. E você não pode retirar, só pode trocar por produtos.
Jovem - Que de boa. Vou viver o resto da vida sem trampar. Essa revolução não mudou muito minha vida, hehe.
Bancária - Você não entendeu ainda, né? Você tem que trabalhar 30 anos, ou 45000 horas. Senão você perde o direito à grana.
Jovem - Fácil! Vou aposentar com cinquenta! hehe
Geek - Nenhum. Todo o dinheiro do mundo é virtual. Salvaremos árvores economizando muito papel.
Jovem - Você não entendeu. Se todos os bancos são iguais, onde eu olho minha conta?
Geek - Qualquer um. Estão todos no mesmo sistema.
Jovem - Entendi. É a mesma conta que eu tinha antes?
Geek - Não. Sua conta agora é o seu número de CPF. Esse é o mesmo de antes.
Jovem - Certo.
*no banco*
Jovem - Achei que iam zerar minha conta, ou algo assim.
Bancária - Eles não quiseram ser tão drásticos. E agora você vai ganhar um salário virtual.
Jovem - Como assim?
Bancária- Todo mês, vão depositar mil dólares na conta de todas as pessoas do mundo.
Jovem - Do mundo?
Bancária - É.
Jovem - E de onde vem toda essa grana?
Bancária - É uma grana virtual. Ela não vem de lugar nenhum. E você não pode retirar, só pode trocar por produtos.
Jovem - Que de boa. Vou viver o resto da vida sem trampar. Essa revolução não mudou muito minha vida, hehe.
Bancária - Você não entendeu ainda, né? Você tem que trabalhar 30 anos, ou 45000 horas. Senão você perde o direito à grana.
Jovem - Fácil! Vou aposentar com cinquenta! hehe
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