Quando fui escalado para técnico da seleção, foi exatamente a primeira coisa que pensei: vou ouvir os conselhos.
Então, baseado no que o pai do Cláudio me disse, contratei de volta os antigos atacantes do time em 2002, e dispensei os atuais. Agora, ex-atuais.
Desde pequeno, eu me impressionava como todas as pessoas à minha volta pareciam serem melhores técnicos do que o Zagalo ou o Parreira. Até hoje eu me lembro de comentários que poderiam ter salvado campeonatos. "Se o Zagalo tivesse usado mais uma substituição, teria ganho a copa", ou "O Parreira convocou o atacante errado. Aquele seria mais útil" sempre me impressionavam, quando me pai falava na frente da TV. E logo após ficava a dúvida, quando foi que meu pai tinha parado de falar sozinho e começado a falar comigo.
Até mesmo minha mãe, que não ligava pra futebol arriscava que "O Dunga era melhor capitão, devia ter ficado."
Então, estava decidido. Celular na mão, lap top para enquetes, twitter e o escambau. Começamos os primeiros jogos e logo deu certo. Liguei para o meu pai.
- Pai, acha que eu troco o Ronaldo?
- Não, manda ele descansar um pouco, correr menos agora, e dar um pique pra fazer um gol no final do tempo.
Deu certo. Ganhamos de um a zero.
Dali a dois jogos, outra surpresa: Lancei no Twitter se deveria tirar o Rafael depois de ganhar cartão amarelo. Internautas de plantão disseram que sim. Tirei. Empatamos. Talvez tivesse perdido com um jogador a menos.
Quando chegamos nas oitavas de final, comecei a exigir mais dos meus conselheiros.
- Pai, quem eu coloco no ataque?
E meu pai me dava o mesmo conselho que o pessoal no blog comentara antes.
- Mãe, começo o jogo com qual goleiro?
Minha mãe era para mim, como uma relação instintiva pelo futebol. Se preciso seguir meu instinto, ligo para minha mãe. Seguir meu instinto foi o conselho que deram na comunidade do Orkut.
Tudo correu mais ou menos bem até as quartas de final, antes de um jogo contra um país da Europa Oriental.
Os conselhos postados na comunidade do Orkut eram os mais diversos possíveis. Não consegui distinguir qual era a opinião da maioria. No Twitter parecia unanimidade de que o camisa 10 deveria ficar de fora do jogo.
- Não! disse meu pai. Ele é quem salva as partidas! O povo não presta atenção nos bons passadores de bola. Ele não erra um passe.
Postei a opinião de meu pai na internet. Os internautas responderam. "Camisa 10 é pra fazer gol, não pra passar a bola!"
Mandei o mail do meu pai para eles discutirem e chegarem a uma conclusão. Por favor, mandem cópias para mim! Preciso acompanhar a discussão!
Desastre completo. Perdemos o jogo. Com camisa 10 e muitos passes perfeitos. E meu pai ainda levou uma enxurrada de e-mails de internautas exibindo impressionantes habilidades para desenhar órgãos genitais masculinos apenas usando letras de teclado.
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